NOTA DE REPÚDIO À DESTRUIÇÃO DA SINALIZAÇÃO DO CAMINHO DA MATA ATLÂNTICA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA.
Da Associação de Moradores e Amigos VIVA Cosme Velho, texto e imagens, via facebook em 8 de abril de 2021 :
A MURALHA, A BOIADA E A FLORESTA DA TIJUCA.
A MURALHA DA CHINA, com seus 21 km de extensão, é a maior obra feita pelo homem e o maior exemplo de continuidade administrativa conhecido – demorou 2 mil anos para ficar pronta.
NO BRASIL, um empreendimento desse porte jamais seria concluído, pois a descontinuidade administrativa é uma espécie de doença crônica dos nossos mandatários.
O CONTUMAZ DESRESPEITO à autonomia das instituições é a tônica das administrações brasileiras, que primam por desconsiderar o que foi feito pela administração anterior. Nossa história registra uma sequência infindável de contramarchas, desvios e mudanças de rumo em todos os níveis – municipais, estaduais e federais, incluindo até rupturas no próprio regime democrático.
TAL COMPORTAMENTO, no entanto, atingiu um grau paroxístico no atual governo, que deixará um rastro histórico de desconstrução e desmonte do Estado e de suas políticas – como é o caso da política externa, da política educativa ou da política sanitária.
NA POLÍTICA Ambiental, a propósito, um dos responsáveis por esse retrocesso destrutivo é o atual e notório ministro do Meio Ambiente, cujas medidas, invariavelmente, atropelam antigas medidas sacramentadas por lei, regimentos comprovadamente eficazes e planos vitoriosos, em vigor até a sua chegada ao Ministério.
A VIVA não tem envergadura nem competência para interferir nos assuntos nacionais, mas possui autoridade estatutária para criticar qualquer agente público que quiser “passar a boiada” no quintal do bairro, ou seja, na Floresta da Tijuca – que é o prolongamento imediato da Zona de Amortecimento do Cosme Velho, e nossa principal preocupação ecológica.
DESDE O INÍCIO da atual gestão, o ministro tem negado autonomia ao ICMBio – órgão responsável pelo PNT, e que é um dos principais interlocutores da Viva Cosme Velho –, indicando diretores não qualificados, censurando as declarações de seus membros etc. Esta semana, no entanto, a sua boiada vandalizou toda a sinalização e removeu todas as placas colocadas no Parque Nacional da Tijuca pela ONG Caminho da Mata Atlântica, que desde 2015 vem, diligentemente, construindo uma trilha pioneira que já se estende por mais de 4000 quilômetros – a quinta parte da extensão da Muralha da China –, cruzando a Serra do Mar e toda a diversidade ambiental do litoral sul, desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul.
ABAIXO, assinada pela Comissão de Governança do Caminho da Mata Atlântica, estamos endossando e transcrevendo a íntegra da Nota de Repúdio ao gesto antirrepublicano desse ministro que, se a Muralha da China estivesse sob sua responsabilidade, provavelmente não hesitaria em mandar sua boiada metafórica derrubá-la e passar por cima.
NOTA DE REPÚDIO À DESTRUIÇÃO DA SINALIZAÇÀO DO CAMINHO DA MATA ATLÂNTICA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA
A Comissão de Governança do Caminho da Mata Atlântica (CMA), em nome de todos os voluntários e parceiros que atuam na sua construção desde 2015, manifesta total repúdio à destruição da sinalização da trilha e remoção das placas no Parque Nacional da Tijuca (PARNA Tijuca).
Placas do projeto foram arrancadas e a sinalização direcional foi coberta com tinta, sem qualquer justificativa, comunicação prévia, ou consulta às Câmaras Técnicas e aos Conselhos do Parque e do Mosaico Carioca.
O Caminho da Mata Atlântica é a primeira trilha brasileira a conectar diversos estados de duas regiões, totalizando mais de 4 mil km. Também é a trilha com maior extensão sinalizada no Brasil, totalizando mais de 500 km. São mais de 4 mil voluntários cadastrados e centenas de pessoas que já participaram de oficinas e mutirões e vêm construindo passo a passo esse projeto que valoriza o patrimônio natural, histórico e cultural da Mata Atlântica.
É importante destacar que a sinalização destruída no Parque Nacional da Tijuca foi discutida e aprovada tanto na Câmara Técnica de Uso Público do Conselho do Mosaico Carioca de Áreas Protegidas, como na Câmara Técnica de Esportes e no Conselho Consultivo do próprio parque, e contou com apoio formal do ICMBio, em ofício de 23 de agosto de 2018.
Todas as instâncias de participação foram ignoradas em uma medida autoritária ordenada pelo ministro Ricardo Salles. Essa é mais uma ação entre tantas que ameaçam o meio ambiente e desrespeitam a participação social na gestão ambiental em um momento de ataques à legislação de proteção, de censura e de explosão do desmatamento. A boiada segue atropelando tudo o que foi construído na gestão ambiental brasileira em décadas.
Medidas autoritárias como essa não nos calarão. Continuaremos trabalhando e construindo este projeto com voluntários, instituições parceiras, operadores turísticos e comunidades locais.
Comissão de Governança do Caminho da Mata Atlântica.
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